Café na Escola - Confraria dos Rojões da Bairrada



No dia 28 de julho decorreu, na sede da confraria, em Oliveira do Bairro, o evento “Café na Escola”.

Este evento teve como objetivo promover, com um jantar, um grande momento de confraternização e cultural com os nossos confrades e amigos. O jantar teve como prato principal os rojões saborosos da Bairrada acompanhados com grelo e batata à Racha, tendo a refeição sido preparada pela Confrade de Honra Fátima Rito.

Após o jantar, houve a apresentação, pelo o Mordomo-Mor Antonino Gomes, do convidado para o momento cultural, o confrade Carlos Gomes da Costa.

O Confrade Carlos Gomes da Costa nasceu na Póvoa do Paço, formou-se em engenharia Eletrónica e Telecomunicações, tendo estado sempre ligado a empresas, tendo fundado algumas, e ao associativismo. Sempre teve gosto pela literatura e pela escrita tendo sido o seu primeiro livro as “Essência das coisas”. Recentemente lançou o seu segundo livro chamado de “Os Ziguezagues da Gestão”. O Confrade Carlos Gomes da Costa começou por falar sobre o seu primeiro livro, tendo referenciado as memórias da sua infância, em especial da sua mãe e avó. Neste contexto, recitou o poema “Olhar salgado” que escolheu do seu primeiro livro que enaltecia os rojões confecionados pela sua mãe, poema escrito no dia 8 de março de 2020, num dos encontros da confraria, três anos após da partida da sua mãe. No fim da declamação foi aplaudido pelo maravilhoso poema e pela forma sentida como o pronunciou.

De seguida, o Confrade Carlos Gomes da Costa apresentou o seu novo livro “Os Ziguezagues da Gestão”. Sobre este livro, mais focado na sua vida profissional como empreendedor e gestor, falou sobre as dificuldades em criar e construir empresas.

No fim, os confrades tiveram a oportunidade de adquirir exemplares do seu ultimo livro “Os Ziguezagues da Gestão”  do  Confrade Carlos Gomes da Costa.

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poema “Olhar salgado”

Hoje,

Parece dia de festa na confraria dos rojões à Bairrada

Como bem os fazias Carvalha, Ilda, os rojões

Azafama no dia anterior

Matança do porco, sempre porca parideira

Choravas sempre Carvalha, Ilda

Guinchos do animal cortavam-te o coração de mãe

A lâmina fria matava e criava alegria

Família reunida, filhos, irmãos, netos, netas e todos os mais

Hoje comi os rojões com grelos e batata à racha

Grande Hotel do Luso serviu o repasto

Os rojões são da Dona Fátima eximia no fazer dos rojões e cozer os grelos

Muitos os confrades de volta das mesas

Gente boa e que conhecem as agruras da vida

Comi os rojões e brinquei com as palavras

Os confrades riram com lágrimas

As minhas lágrimas eram salgadas

Salgado estava o meu coração

Amanhã, faz três anos que deixaste de fazer rojões

Ri, sim ri, as minhas lágrimas de sódio cristalizaram na alma

Ilda Carvalha, esposa, mulher e mãe que hoje se comemora o teu dia

Dia da mulher?

Fará sentido?

nascer mulher é castigo”

Dizias com realismo, amargura e orgulho

Coisa complicada para os neurónios que não conhecias

A febrada na noite do desmanchar do porco que era porca

Ui! que maravilha

Todos de volta do fogareiro

Pão fresco, febras a sair na hora

Vinho, bom e muito que o pai nunca deixava acabar

O lume trepidava

Os rojões das tripas se faziam

Juntavas, Ilda, uma vasilha para todas as cunhadas

Rim, sangue, torresmos, rojões das tripas, alho e louro

Zé Maria vai levar isto às tuas irmãs…..

Isto depois de frio não tem graça nenhuma!!!

Raios parta o homem que não se despacha

Que feitio tão contrário ao meu

O Zé Maria lá ia na sua Lambreta TV 175 ( ZN-77-77)

Feliz e contente de alma cheia e orgulho na sua Ilda

Domingo!

Tacho ao lume depois de muito areado

Carne cortada pela Carvalha, Ilda

Já disse… quero a carne para rojões separada da outra,

Sou eu que os corto, o matador não percebe nada disso!

E ponto final, falou quem sabe e os outros obedecem

Zé Maria, que lenha é esta?

Raios ta partam que não fazes nada de jeito!

Forma estranha de amar e agradecer

Mas era assim que os dois gostavam e se amavam.

O Tacho é comigo!

Ponham vocês a mesa e tu Ilda Maria faz o arroz de fressura

Começa a chegar o pessoal,

Manel, o filho primeiro entra na cozinha e mete o nariz no tacho

Ouve lá os teus rojões já aí estão entalados como gostas

Pensavas que me esquecia de ti?

A minha cabeça durante a noite é como um moinho

Não preguei olho

Vá tudo para a mesa

Zé Maria…que andas a fazer?

Vai para o teu sítio e não metas o nariz onde não és chamado.

E, o Zé Maria ia para a testeira da mesa de trinta e tais familiares,

Todo orgulhoso da sua Ilda a Carvalha.

Primeiro sopa de carne de vaca

Não ponham ao Manel pois ele não gosta

Dizia alto da cozinha velha (que era nova) a Ilda Carvalha

Depois o arroz de fressura

Ó amiga, dizia eu a minha irmã, o arroz está uma delicia.

Estava e continua a estar.

Chegam as travessas dos rojões

É a epifania da mesa farta , bonita de regalar os olhos.

Carlos….toma lá, trazia a minha mãe Carvalha, Ilda

Guardei para ti estes rojões com osso do espinhaço

Julgavas que me tinha esquecido?

Hoje 8 de março dia da mulher

Na Confraria dos rojões

Não só comi rojões

Engoli lágrimas e comi saudades.

………………………………………. Ui isto custa!!!

Ilda filha trás a aletria para a mesa

Que delicia, que sabor que iguaria.

Diz o Zé Maria, meu pai

Rapazes vão buscar o Coisato….

Vinha o espumante, a aguardente velha

Uns copos para o whisky

O mulherio reclamava

Não tem juízo nenhum

Ora agora que vão estragar tudo

Horas sentados a tagarelar

A falar de tudo e de nada

A bebericar uns espíritos

A minha mãe Ilda a Carvalha

Senta-se finalmente ao lado do Zé Maria meu pai

Olha embevecida para os filhos e sua família

Conta as suas histórias e estórias

E diz…

A minha maior alegria e orgulho é ver aqui os meus filhos

O Manuel, o Carlos o António e a minha menina a Ilda.

Nisto largava uma lágrima de felicidade

Também no seu último suspiro a nove de Março

Largou a ultima lágrima, de mão dada com o seu e nosso Tonito

Meu irmão!

Por Carlos Gomes da Costa